Governo Trump fará operação ‘Lança do Sul’ para ‘combater narcotráfico’ na América Latina
14 de Novembro, 08:00 por Will Willame

O secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, anunciou nesta quinta-feira uma operação militar chamada “Lança do Sul”, com o objetivo de combater o que ele chamou de “narcoterroristas” e tentar impedir a entrada de drogas no país.
A operação será realizada com o Comando Militar Sul, que realiza operações no Caribe e na América Latina. Hegseth fez o anúncio por sua conta no X, antigo Twitter, sem fornecer detalhes das operações.
Os EUA tem intensificado a presença de navios e aviões de guerra perto da costa da Venezuela, num movimento que a ditadura de Nicolás Maduro considera uma preparação para uma eventual invasão.
“Hoje, estou anunciando a Operação Lança do Sul”, disse Hegseth, em um post na rede social X. “Liderada pela Força-Tarefa Conjunta Southern Spear e o Comando Militar do Sul, essa missão defende nossa pátria, remove narcoterroristas do nosso hemisfério e protege nossa pátria das drogas que estão matando nosso povo. O hemisfério Ocidental é a vizinhança da América – e nós o protegeremos.”
Nesta semana, o porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior do mundo, chegou às águas próximas da América Latina, intensificando uma campanha militar que já matou mais de 75 pessoas a bordo de lanchas e embarcações semissubmersíveis no Mar do Caribe.Segundo os militares, o navio dará apoio a operações para “desmantelar organizações criminosas transnacionais”.
O presidente Donald Trump sugeriu repetidas vezes que ataques terrestres poderiam ser o próximo passo, mas nos últimos dias negou estar considerando um ataque militar iminente dentro da Venezuela.
As embarcações e aeronaves do grupo de ataque do USS Gerald Ford se somam à já robusta presença militar dos Estados Unidos no mar do Caribe, composta por navios de guerra, jatos de combate, helicópteros de operações especiais e aviões bombardeiros.
Nos últimos dois meses, os EUA atacaram mais de 20 embarcações no Caribe e no Pacífico, em ações que deixaram mais de 70 mortos. Segundo o comando americano, os barcos pertenciam a organizações narcoterroristas.
Possíveis alvos dos EUA na Venezuela
Caso o governo Trump decida realizar ataques terrestres, as forças americanas poderiam escolher entre diversos alvos, desde bases militares venezuelanas a laboratórios de refino de cocaína, pistas de pouso clandestinas ou acampamentos de guerrilheiros, de acordo com ex-militares e oficiais antidrogas americanos e venezuelanos, além de analistas de defesa. Mas o impacto potencial de tais ataques permanece incerto.
Embora Trump tenha sinalizado a possibilidade de ataques terrestres contra narcotraficantes na Venezuela, ainda não está claro se ele teria como alvo locais de contrabando de cocaína ou a própria ditadura de Nicolás Maduro.
Trump alegou que o ditador e seus principais assessores são líderes de uma organização de narcotráfico, o Cartel de los Soles, que envia drogas para os Estados Unidos. O governo americano classificou o Cartel de los Soles como um grupo narcoterrorista e poderia usar isso como justificativa para atacar diretamente a ditadura de Maduro, numa tentativa de pressioná-lo ou removê-lo do poder à força.
Segundo Jim Stavridis, um almirante aposentado do Exército dos EUA que supervisionou as operações na região de 2006 a 2009, as Forças Armadas da Venezuela “atrofiaram” nos últimos anos, mas ainda possuem armamento e capacidade suficientes para que seja improvável que o governo Trump ordene qualquer incursão terrestre significativa.
“Espere por ataques cinéticos de precisão contra alvos relacionados ao narcotráfico e à capacidade militar e, se isso não surtir o efeito desejado, contra a liderança”, disse Stavridis. “Acho que o objetivo aqui é convencer Maduro de que seus dias estão contados, mas convencê-lo disso exigirá uma quantidade considerável de ataques contra a infraestrutura da Venezuela.”
Ainda de acordo com o analista, Maduro poderia se entrincheirar. Isso deixaria o governo Trump com a possibilidade de deliberar se deve realizar ataques contra a segurança de Maduro ou uma missão de Operações Especiais para capturá-lo ou matá-lo, ainda que uma operação desse porte seja de alto risco..
Para Stavridis, os Estados Unidos poderiam começar com ataques a aeroportos ou portos marítimos identificados como potenciais centros de distribuição de drogas. Também poderiam atacar pontos de embarque perto da fronteira da Venezuela com a Colômbia, de onde se originam quantidades significativas de cocaína. Mas o Pentágono também gostaria de atacar as defesas aéreas venezuelanas para proteger suas próprias aeronaves, disse o almirante aposentado.
As forças americanas também poderiam alvejar pistas de pouso clandestinas, como no estado de Apure, de acordo com um ex-agente da DEA (Administração de Repressão às Drogas dos EUA) na Venezuela, que falou sob condição de anonimato para discutir detalhes sensíveis. Os traficantes costumam armazenar cocaína perto dos “estacionamentos” onde aviões da América Central pousam e aguardam para carregar as drogas.
As forças americanas também poderiam alvejar pistas de pouso na região de Catatumbo, que tem visto um aumento no tráfego aéreo em meio à repressão americana aos barcos de narcotráfico, de acordo com um ex-capitão do exército venezuelano, agora exilado, que falou sob condição de anonimato por questões de segurança. Grandes depósitos de drogas também podem ser encontrados no estado de Sucre, afirmou o ex-oficial militar.
Destruir o fornecimento de drogas poderia neutralizar o poder econômico de militares e políticos corruptos, disse o ex-capitão do Exército. Mas, se o objetivo for atingir diretamente as forças de segurança de Maduro, os militares dos EUA poderiam mirar na poderosa agência de contrainteligência militar da Venezuela, a Direção-Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM).
Qual é o objetivo final de Trump?
Mesmo que ataques sejam realizados na Venezuela, é improvável que isso mude algo significativo no comércio de drogas com os EUA, disseram autoridades americanas, atuais e antigas, familiarizadas com a região.
Um general aposentado afirmou que o tráfico de drogas proveniente da Venezuela é principalmente de cocaína, produzida inicialmente na Colômbia e enviada para a Europa ou para as ilhas do Caribe — não para os Estados Unidos.
“A ideia de que se vai interromper o fluxo de drogas atacando a Venezuela é pura balela”, disse o general, falando sob condição de anonimato.
Em uma reunião confidencial com alguns membros do Congresso na semana passada, o Secretário de Estado Marco Rubio e o Secretário de Defesa Pete Hegseth disseram que o governo não está se preparando para atacar a Venezuela diretamente e que não possui uma justificativa legal adequada para fazê-lo, de acordo com pessoas familiarizadas com a reunião.
Um funcionário americano em exercício, familiarizado com as deliberações do governo neste ano, disse não ter certeza se Trump autorizará ataques na Venezuela, ou por quanto tempo os ataques no mar poderão continuar. Assim como em outras ações militares realizadas por Trump, disse o funcionário, o presidente pode declarar vitória abruptamente e seguir em frente. / AFP, AP e W. POST
Estadão
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