Bukele, ídolo da direita, e a falsa paz de El Salvador: corrupção e acordo com crime organizado
17 de Novembro, 11:18 por Will Willame

Por Lúcio de Castro*
Milhões de dólares operados pelo irmão do presidente.
Um aumento de 307% em verba pública para o ministério comandado pela família.
E uma grande coincidência: paralelo a esse aumento exponencial com o dinheiro do contribuinte, uma empresa em nome desse irmão foi aberta no paraíso fiscal de Delaware (Estados Unidos), o epicentro do sigilo financeiro global na atualidade. Destino frequente para o depósito do butim de políticos e afins de todo o planeta com ganhos suspeitos.
É a El Salvador de Nayib Bukele.
O Éden tropical idealizado pela extrema direita latino-americana.
Transformada em Meca pelo bolsonarismo e tema obrigatório na pauta de debates das próximas eleições e da “CPI do Crime Organizado”, que na última semana teve protocolado requerimento para convite ao presidente de El Salvador por parte do senador Magno Malta (PL-ES). Cantado em verso, prosa e campanha eleitoral como nova receita de civilização.
Grafite de Bukele em El Salvador, patrocinado pelo governo. (Foto: Reuters/Folhapress)Na próxima semana, será a vez da peregrinação dos irmãos Flávio e Eduardo Bolsonaro. Presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado, Flávio apresentou no último dia 4 um requerimento para “visita institucional” a Bukele. O pedido, que tem como justificativa “intercâmbio de experiências e informações sobre políticas de segurança pública, sistema penitenciário e legislação penal”, foi aprovado pelo colegiado. Flávio embarca nesta segunda-feira (17), e Eduardo vai aos Estados Unidos. Cada diária de parlamentar no exterior em visita oficial custa US$ 428. Fora a despesa com passagens e hospedagens.
Mas por trás de toda propaganda e do modelo mais citado por influencers de direita, está uma imensa caixa-preta. Que começa a ser aberta.
Com corrupção, acordos com o crime organizado para sustentar índices baixos de violência, contratos governamentais milionários com empresas de narcotraficantes, censura, perseguição a jornalistas e opositores, golpe na Suprema Corte para obter maioria, violações da constituição, supressão de direitos, prisões em massa sem o devido processo legal e nepotismo. O completo desmantelamento de toda a institucionalidade do país. Um paraíso artificial.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) é o visitante da vez em El Salvador, para participação no “Congresso Parlamentar de Inteligência e Segurança”. Desde quinta-feira (13) no país, tem se encontrado com membros do governo e feito postagens com repetidas declarações elogiosas ao modelo de repressão. Um dos encontros foi com o ministro da Justiça de Bukele, Gustavo Villatoro.
O anfitrião de Nikolas Ferreira pode ser considerado como a síntese da fragilidade dessa El Salvador virtuosa pintada pela extrema direita que vai ao país para o beija-mão e fotos. Gustavo Villatoro foi o diretor da alfândega salvadorenha durante a presidência de Antonio Saca (2004–2009). Um período marcado pela explosão do tráfico de drogas no país.
Investigações anteriores do Judiciário salvadorenho apontaram o atual ministro da Justiça como alguém muito próximo e atuando conjuntamente a Herbert Saca, primo do ex-presidente, e apontado nas mesmas investigações como um dos grandes responsáveis pela lavagem de dinheiro naquele momento. O período é conhecido como o momento em que explodiu o caso de corrupção da Alba Petróleos de El Salvador, uma joint-venture criada em 2006, tendo a estatal venezuelana PDVSA com 60% das ações.
Nesta época, a Alba ficou marcada por ter sido utilizada como uma máquina de lavagem de dinheiro em grande escala. No lugar de vender petróleo (auditorias mostram que quase nenhum petróleo foi realmente entregue), a empresa movimentou bilhões de dólares por meio de uma complexa rede de subsidiárias
offshore e empréstimos não garantidos e não reembolsados para empresas de fachada, indivíduos ligados à estrutura e paraísos fiscais. Nayib Bukele foi personagem do escândalo.
Em 2013, quando era prefeito de Nuevo Cuscatlán, o atual presidente de El Salvador e empresas de sua família receberam empréstimos da Inverval, uma subsidiária da Alba Petróleos, num total de quase US$ 3 milhões. Um relatório da IBI Consultants, de autoria de um dos principais repórteres investigativos americanos, Douglas Farah, que por décadas cobriu El Salvador para o Washington Post, obteve a cópia de um contrato de empréstimo pessoal de US$ 320 mil da Inverval para Bukele.
A retórica anticorrupção que tanto encanta políticos da extrema direita brasileira não impediu que agora o governo Bukele mantenha em cargos-chave várias pessoas com fortes ligações ao escândalo.

Documento que comprova que Nayib Bukele recebeu US$ 320 mil dólares em 2013Todos os homens do presidente: três irmãos
Desde o primeiro dia de mandato, (1º de junho de 2019), Bukele estabeleceu um novo regime no pequeno país centroamericano, com população de 6,5 milhões: uma fratriarquia ditatorial. São 16 ministérios e seis secretarias presidenciais. Mas o poder efetivo está concentrado na mão dele e de três irmãos, todos mais novos: Karim Alberto e os gêmeos Yusef Alí e Ibrajim Antonio. Os filhos de Olga Ortez e Armando Bukele. Além deles, existem mais cinco irmãos, filhos de Armando em outros relacionamentos.
Todas as decisões, estratégias e direcionamento dos negócios passam por esse trio. Quem vai chegar até a sala do presidente, quem vai ser beneficiário de verba pública ou contratos, nada escapa ao filtro dos três. Nenhum deles com o ônus de cargos oficiais, portanto, nenhum sob o escrutínio da lei que rege as responsabilidades de um servidor do Estado. Somente o bônus de quem age nas sombras palacianas.
Alijado do núcleo-duro do poder, dos irmãos que decidem, há um meio-irmão que passa ao largo do radar por não ter a voz de comando dos outros do clã Bukele junto ao mandatário. Yamil Bukele, 47 anos, é filho de Armando com a colombiana Bernarda Rosa Pérez Pomare. Nascido na Colômbia e com dupla cidadania.
O papel de irmão menos badalado e a falta de holofotes sobre suas funções na máquina governamental ajudam com que as atribuições passem batidas. Longe do núcleo de decisão, assumiu outro papel: responsável pelo destino de milhões de dólares saídos do palácio presidencial. Um operador.
O único a ter um cargo formal. Presidente do Instituto Nacional do Esporte (INDES), equivalente ao Ministério do Esporte, acumulou também o comando do Comitê Organizador dos Jogos Centro-Americanos e do Caribe (COSSAN).
Nomeado diretor-presidente e diretor-executivo do INDES no dia 10 de junho, 9 dias depois da posse do irmão. No dia 19 seguinte, uma retificação por novo decreto: para burlar a constituição e a lei de ética do país, o decreto presidencial foi modificado e os termos “ad honorem” incorporados à nomeação.
A expressão latina que afirma alguém estar “por honra”. Usada para descrever atividades ou cargos exercidos sem remuneração.
Assim, Nayib driblou os artigos 127 (impedimento de nomeação até o quarto grau sanguíneo) e os 161 (impedimento de nomeação para cargos remunerados) da constituição.
Nayib Bukele. (Foto: AFP)Nayib Bukele já tinha aplicado a artimanha anteriormente. Durante sua passagem na prefeitura de San Salvador, (1º de junho de 2015 até 30 de abril de 2019), de onde saiu para concorrer e assumir a presidência, Yamil ocupou o cargo de diretor do Instituto Municipal de Esportes e Recreação (Imder).
Ser oficialmente “ad honorem” e sem remuneração foi a senha para que milhões chegassem às mãos de um irmão. Enquanto Karim, Yusef e Ibrajim atuam nos bastidores e sem verba oficial, a pasta do Bukele menos badalado recebe farta e crescente verba diretamente do governo de Nayib.
Desde a ascensão de Nayib, o INDES viu o orçamento ser inflado como jamais antes na história do país. Em quatro anos, o esporte recebeu 307% a mais de verba na média anual do que o antecessor. A maior parte sob a rubrica direta da presidência da república transferindo para o INDES.
Os números do crescimento da verba do INDES desde que Nayib Bukele assumiu a cadeira falam por si: dos US$ 12,872,824.59 (doze milhões, oitocentos e setenta e dois mil, oitocentos e vinte e quatro dólares e cinquenta e nove centavos) transferidos da presidência e Ministério da Fazenda para o INDES em 2018, último ano antes de Bukele, para uma média anual entre 2020 e 2024 de US$ 59.880.377,75 (cinquenta e nove milhões, oitocentos e oitenta mil, trezentos e setenta e sete dólares e setenta e cinco centavos).
Resumindo: em quatro anos sob os Bukele, o INDES recebeu US$ 314,083,115.66 (trezentos e catorze milhões, oitenta e três mil, cento e quinze dólares e sessenta e seis centavos) num fluxo monetário fraternal que não se confirma em desempenho desportivo nas pistas, piscinas, campos, quadras do país e realizações.
A justificativa oficial para o incremento da verba mais encontrada é a realização dos Jogos Centro-Americanos e do Caribe, em 2023 (23/6 a 8/7). Cujo órgão beneficiário das verbas públicas, o COSSAN também era presidido por Yamil Bukele. A competição estava prevista inicialmente para ser realizada no Panamá. Mas em 24 de julho de 2020, o país comunicou que não poderia sediar, em razão da pandemia de Covid. Em maio de 2021, El Salvador se apresentou e foi escolhido como substituto. Ao fim, os jogos dos Bukele se tornaram uma sucessão de denúncias de corrupção, superfaturamento das obras e desvio de verbas.
VERBAS PARA O INDES NOS ANOS BUKELE:
2019: US$ 14.681.826,91 (Presidência da República)
2020: US$ 16.493.948,30 (Presidência da República)
US$ 1.634.215,00 (Presidência da República)2021: US$ 14.729.417,12 (Presidência da República)
US$ 470.100,00 (Presidência da República)2022: US$ 18.177.359,33 (Presidência da República)
US$ 94.168.435,00 (Presidência da República)
US$ 1.454.556,49 (Ministério da Fazenda)2023: US$ 23.662.784,09 (Presidência da República)
US$ 41.701.549,00 (Presidência da República)
US$ 46.121.610,33 (Ministério da Fazenda)2024: US$ 28.916.470,23 (Presidência da República)
US$ 13.505.658,86 (Presidência da República)
TOTAL AUTORIZADO: US$ 315.717.930,66 (Trezentos e quinze milhões, setecentos e dezessete mil, novecentos e trinta dólares e sessenta e seis centavos).
(Desse total do orçamento autorizado, US$ 272.508.736,02 foram executados, em um total de 86,3%).
Yamil Bukele e sua mulher, Rebeca. (Foto: AFP)Yamil Bukele abriu empresa em paraíso fiscal no ano em que INDES recebeu mais verba pública
No ano de 2022, ocorreu o maior volume de transferência de verba pública do governo salvadorenho para o INDES. Um total de US$ 113.800.350,82 (cento e treze milhões, oitocentos mil, trezentos e cinquenta dólares e oitenta e dois centavos). Esse total contabiliza apenas rubricas como “Presidência da República” e “Ministério da Fazenda, sem acrescentar outras instituições governamentais com envios menores.
É nesse mesmo ano, em 30 de setembro de 2022, que uma empresa em paraíso fiscal é aberta, como mostram documentos obtidos pela reportagem do ICL. O responsável pela offshore?
Yamil Alejandro Bukele Perez. Presidente da empresa.
E sua cônjuge, Rebeca Elisa Sanchez Montes, secretária.
A Nobuk Corporation foi registrada em Delaware, Estados Unidos. Escorado no absoluto sigilo financeiro que cerca todas as empresas abertas no paraíso fiscal.
Mas dois anos depois, ao aplicar para que a Nobuk pudesse operar também transações na Flórida, Yamil Bukele abriu brecha para a possibilidade de se comprovar que a empresa de Delaware está em seu nome.
Diante do sigilo absoluto de Delaware, a reportagem conseguiu identificar Yamil Bukele como dono da Nobuk ao ter acesso ao “Application by Foreign Corporation for Authorization to Transact Business in Florida”, exigida para empresas registradas em outros estados que desejam operar na Flórida. O documento, de 23 de agosto de 2024, permitiu a confirmação do irmão do presidente salvadorenho como o dono de uma empresa em paraíso fiscal aberta dois anos antes em Delaware.
Questionado pela reportagem sobre a abertura de uma empresa em paraíso fiscal e em lugar onde a identidade do proprietário é mantida sob sigilo, Yamil Bukele afirmou a busca por tal informação teria a única finalidade “de utilizá-la com fins jornalísticos”. E completou que a sociedade foi criada para a compra de um único ativo, um barco. A resposta, no entanto, não esclarece questões cruciais, tais como: se o único propósito era comprar um barco, qual a razão de registrar a empresa para “transacionar negócios” (transact business) na Flórida, um indicativo de planejamento em realizar operações além da mera aquisição de um ativo.
Também não explica a razão da escolha de Delaware para tal registro, apenas para a compra de um barco. Considerando a natureza de paraíso fiscal conhecido por suas transações sombrias, por que não o registro direto na Flórida?
Existem ainda outras contradições: se a empresa foi criada apenas para comprar um barco nos EUA, por que a sede é em El Salvador? O fato sugere que a estrutura pode estar sendo usada para manter ativos fora do alcance fiscal ou regulatório de El Salvador. Por fim, vale registrar que a empresa designou Corporate Creations Network Inc. como agente registrado na Flórida.
Uma empresa especializada em serviços corporativos para entidades estrangeiras, o que poderia indicar que Nobuk Corporation está seguindo um protocolo típico de empresas que operam internacionalmente, não de uma entidade criada para uma única transação. (ver íntegra da resposta de Yamil Bukele ao fim).
De acordo com o Financial Secrecy Index, índice desenvolvido pela ONG americana “Tax Justice Network”, que classifica os países com base no grau de sigilo garantido por cada um, os Estados Unidos hoje lideram o indicador. E o fator principal dessa dianteira é impulsionado por Delaware, o endereço preferido que atrai registros, entre outros, de políticos com dinheiro obtido ilicitamente, sonegadores, empresários com negócios atípicos e outros. De acordo com o Tax Justice Network, é possível obter legalmente registro de uma empresa em Delaware sem apresentar documentação, endereço e anonimamente.

Documento de registro da Nobuk Corporation, em DelawareContratações de consultorias e estudos aumentaram em 1.348% no INDES dos anos Bukele
O incremento imenso da verba do INDES nos anos dos Bukele veio acompanhado de outro aumento que chama atenção: uma inflada sem paralelos em rubricas que tradicionalmente não permitem maior controle dos gastos e que são subjetivas quanto ao valor de cada contrato, por não serem totalmente mensuráveis.
Despesas alocadas em consultorias, assessorias e estudos, por exemplo. Que, historicamente, em casos de superfaturamento catalogados em diferentes países, são, pela citada subjetividade na contratação, difíceis de auditar. São ainda mais passíveis de justificativas para ausência de licitações, usando argumentos para não abertura de processos competitivos, tais como “especialização técnica”.
Foi caso recorrente nas despesas do INDES nos anos de Yamil Bukele e gastos da verba transferida pelo irmão. Alguns clássicos em rubricas subjetivas e não auditáveis mundo afora: pagar por um “estudo” que nem sempre é entregue ou então uma mera colagem de outros trabalhos. Ou mesmo o repasse a aliados políticos ou familiares, utilizando empresas de consultoria que podem ser laranjas.
O fato é que, entre 2019 e 2024, despesas como “Consultorías, Estudios e Investigaciones” cresceram 1.348%. Saltando dos US$ 201.503,58 de 2019 para os US$ 2.916.486,73 em 2024, ano em que já tinham ocorrido os Jogos Centroamericanos.
Os gastos com consultorias, estudos e investigações no INDES cresceram aproximadamente 1.348% entre 2019 e 2024:
2019: US$ 201.503,58
2020: US$ 593.092,16
2021: US$ 907.308,93
2022: US$ 2.138.747,48
2023: US$ 2.382.708,59
2024: US$ 2.916.486,73
Em 14 de junho de 2024, uma sessão extraordinária do COSSAN foi realizada para prestação de contas e a aprovação de contratos ainda referentes aos jogos do ano anterior. Yamil Bukele não esteve presente. Na pauta da reunião, esteve a necessidade de se cumprir, de acordo com a ata, a obrigação contratual com o Centro Caribe Sports (CCS), de manter o legado do evento. Foi estabelecido que seria publicado um conjunto de documentos a ser chamado de “Memória Centroamericana”.
Sem licitação e sem concorrência, o ganhador acabou não sendo nenhuma empresa. Como pessoa física, Victor Romero, ficou com um contrato de US$ 150.027,00 para que fosse produzida uma revista de “Memorias Centroamericana” com 300 exemplares. E uma outra, também com 300 exemplares, sobre os medalhistas e um álbum fotográfico, novamente com 300. A proposta com valor elevado para um serviço de impressão, entregue sem licitação, a uma pessoa física, venceu, com apenas um voto de abstenção.
A ausência de licitação em contratos milionários se repetiu em diversos casos na organização dos jogos. Em 2022, a mexicana Prodisa, sem sequer estar ainda naquele momento registrada em El Salvador, arrecadou US$ 39,4 milhões em recursos do INDES.
“Chepe Diablo”, acusado pelo governo americano de ser narcotraficante e que seria dono oculto de empresa que tem contratos milionários com o governo salvadorenhoMilhões em contratos com empresas do narcotraficante “Chepe Diablo”
Mais obscura ainda é a contratação repetida da Companhia Salvadoreña de Seguridad, a COSASE para “serviços de vigilância e segurança”. Não só no INDES mas em diferentes órgãos do governo.
Em 17 de fevereiro de 2025, o Indes assinou contrato no valor de US$ 740.436,00 (setecentos e quarenta mil, quatrocentos e trinta e seis dólares), para, até o fim deste ano, fazer a “vigilância e segurança privada do INDES.
A COSASE foi protagonista de um dos maiores escândalos na El Salvador de Bukele.
Em 2021, a empresa teve sua gestão encampada. Foi determinada a transferência de propriedade, saindo das mãos de quem era apontado como o dono, José Adán Salazar Umaña, o “Chepe Diablo”, e indo para o Consejo Nacional de Administración de Bienes (CONAB). Uma decisão da Justiça, com base na Lei Especial de Extinção de Domínio. “Chepe Diablo” foi acusado pelo governo dos EUA por lavagem de dinheiro para associados do suposto Cartel do Texi.
De acordo com o veredito, a COSASE era parte de um esquema de lavagem de dinheiro do narcotráfico por parte de “Chepe Diablo”, envolvendo dezenas de empresas, entre segurança, rede de hotéis e serviços.
Confiscadas, as empresas de “Chepe Diablo” seguiram ganhando contratos no governo Bukele, chegando a somar US$ 26,6 milhões depois de extinção do domínio do narcotraficante.
Uma recente investigação do Ministério Público de El Salvador concluiu que o confisco não passava de fachada, sendo a gestão estatal, via CONAB, frágil. Para completar, Bukele nomeou para comandar a intervenção Rodolfo Delgado, apoiado pelo congresso, que é dominado por partidos aliados a Bukele, o que resultou em obstáculo às investigações.
Assim, de acordo com o MP, o esquema de tráfico e lavagem de “Chepe Diablo” não estaria desmantelado. Os promotores apontaram que essencialmente os gestores, funcionários e advogados da COSASE seguiam sendo os mesmos que eram sob o comando oficial de “Chepe Diablo”.
A ação promovida pelo MP foi parar no Supremo Tribunal. Na corte superior, Bukele nomeou como ministro Miguel Ángel Flores Durel, ex-advogado de “Chepe Diablo”. A entrada de Flores Durel se deu em maio de 2021, quando a Assembleia Legislativa aprovou as destituições de cinco ministros da Suprema Corte e do procurador-geral do país. O movimento, com Bukele nomeando nomes ligados a ele, ficou marcado como a tomada de poder da corte máxima do país.
A investigação foi paralisada e, mesmo depois da morte de Flores Durel, em 2023, assim segue. E a COSASE fechou contrato milionário com o INDES de Yamil Bukele.
Antes de representar “Chepe Diablo”, o ministro escolhido por Bukele para a Suprema Corte tinha atuado na defesa de Borromeo Enrique Henríquez, o “Diablito de Hollywood”, líder mais influente da Mara Salvatrucha (MS-13), a principal “pandilla” (gangue) de El Salvador. A ligação entre Flores Durel e o bandido ficou pública depois que o próprio Supremo, apresentando documentos, revelou que o magistrado iria se abster de decidir sobre pedido dos Estados Unidos pela extradição de “Diablito de Hollywood” por acusações de narcotráfico e terrorismo.
A reportagem enviou uma série de perguntas para o governo de Nayib Bukele e para o irmão, Yamil Bukele, através da assessoria de imprensa do gabinete presidencial. Seguem as questões e respostas:
Outro lado:
1- Nos últimos 4 anos, o orçamento do INDES experimentou um aumento médio anual de 307% em comparação com a gestão anterior. A maior parte desses fundos foi transferida ao INDES mediante atribuição direta assinada pelo presidente da República. Neste quadriênio, o INDES recebeu pelo menos USD$ 314.083.115,66 (trezentos e catorze milhões, oitenta e três mil, cento e quinze dólares e sessenta e seis centavos) provenientes da Presidência. Solicito ao INDES que se pronuncie sobre este incremento significativo de sua dotação orçamentária.
Resposta: Pelo exposto, informa-se que a Instituição incrementou seu orçamento nos últimos anos devido a diversos fatores, dentre os quais podemos identificar: – “Programa de Construção de Infraestrutura e Resgate de Cenários Esportivos a Nível Nacional (PRODEPORTE)”. A organização dos Jogos Centro-Americanos e do Caribe San Salvador 2023, Projetos de investimento no esporte La Liga Valores y Oportunidad, mediante convênio firmado entre o INDES e a Primeira Divisão da Espanha, cujo nome comercial é LALIGA. – O Programa Esforço e Glória, no qual se reconhece com estímulo esportivo os atletas de alto rendimento das diferentes Federações e Associações Esportivas.
Prêmios Esforço e Glória, no qual se incentiva com prêmios o melhor do esporte no ano, no exercício de diferentes categorias e eleitos por um painel diverso entre profissionais do esporte, jornalistas e público em geral, mediante a realização de uma Gala.
Programa Jr. NBA, programa de massificação do esporte do Basquete em coordenação com a Federação Salvadorenha de Basquete. Entre outros. Todos os dados, documentos de suporte e informação podem ser encontrados nos seguintes portais:
Portal da Transparência (https://www.transparencia.gob.sv) e INDES (https://web.indes.gob.sv/?page_id=44651)
PS.: O portal da Transparência, indicado na resposta, aparece como bloqueado, como se pode ver na imagem abaixo:

2- Os gastos do INDES em conceitos de consultorias, estudos e pesquisas cresceram aproximadamente 1.348% entre 2019 e 2024. Solicito ao INDES que ofereça seus comentários a respeito.
Resposta: Pelo exposto, informa-se que a Instituição incrementou seu orçamento no item de serviços profissionais devido a diversos fatores, dentre os quais podemos identificar:
“Programa de Construção de Infraestrutura e Resgate de Cenários Esportivos a Nível Nacional (PRODEPORTE)”. A organização dos Jogos Centro-Americanos e do Caribe San Salvador 2023, Projetos de investimento no esporte La Liga Valores y Oportunidad, mediante convênio firmado entre o INDES e a Primeira Divisão da Espanha, cujo nome comercial é LALIGA.
O Programa Esforço e Glória, no qual se reconhece com estímulo esportivo os atletas de alto rendimento das diferentes Federações e Associações Esportivas.
Prêmios Esforço e Glória, no qual se incentiva com prêmios o melhor do esporte no ano, no exercício de diferentes categorias e eleitos por um painel diverso entre profissionais do esporte, jornalistas e público em geral, mediante a realização de uma Gala.
Programa Jr. NBA, programa de massificação do esporte do Basquete em coordenação com a Federação Salvadorenha de Basquete. Entre outros.
Todos os dados, documentos de suporte e informação podem ser encontrados nos seguintes portais:
Portal da Transparência ( https://www.transparencia.gob.sv.) e INDES ( https://web.indes.gob.sv/?page_id=44651 )
3- O INDES celebrou diversos contratos, alguns com vigência até 2025, com a Companhia Salvadorenha de Segurança (COSASE), uma firma que foi apontada em múltiplas ocasiões por seus vínculos com o narcotraficante conhecido como “Chefe Diabo”.
Solicito à instituição que se manifeste sobre esta relação contratual.
Resposta: Entre 2019 e 2025, existe apenas um contrato celebrado entre o Instituto Nacional de Esportes de El Salvador, (INDES) e a sociedade COMPANHIA SALVADORENHA DE SEGURANÇA, S.A. DE C.V. (COSASE); instituição administrada atualmente pelo Conselho Nacional de Administração de Bens (CONAB).
Contrato com vigência a partir de fevereiro de 2025 até dezembro de 2025, dita contratação originou-se do processo de compra por leilão reverso, dando cumprimento aos princípios de transparência e livre concorrência. Esclarecendo que a Sociedade não se encontrava incapacitada ou impedida de ser contratada pela Administração pública (conforme portal de COMPRASAL) e de Goberno de El Salvador. Todos os dados, documentos de suporte e informação podem ser encontrados nos seguintes portais:
Portal da Transparência (https://www.transparencia.gob.sv) e INDES ( https://web.indes.gob.sv/?page_id=44651)
4- Em 2022, foi constituída uma empresa no paraíso fiscal de Delaware em nome de Yamil Alejandro Bukele Pérez, em sociedade com sua esposa, Rebeca Elisa Sánchez Montes. Solicito que o presidente do INDES, Yamil Bukele, se pronuncie a respeito.
Resposta: “Na minha qualidade de presidente Ad Honorem do INDES, esclareço que esta informação não obedece a documentação ou arquivos de contratos próprios da instituição, mas sim a informação pessoal com a única finalidade de utilizá-la com fins jornalísticos, mas respondo baseado na transparência e na política implementada na minha gestão, informando o seguinte:
Esta sociedade foi criada para a compra de um único ativo (um barco) e não com fins comerciais nem para a abertura de contas ou depósitos. Foi constituída por recomendação da empresa que me vendeu o barco, prática habitual neste tipo de compras, que está legalmente inscrita e paga seus devidos tributos correspondentes à sua bandeira e registro estadunidense. Ao mesmo tempo, acrescento que o barco em questão está registrado como ativo em El Salvador, assim como minhas propriedades.”
*Especial para o ICL Notícias
ICL Notícias
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